nas danças afro-brasileiras
Oralidade
A oralidade aqui é compreendida não apenas como a palavra falada, mas como a interpretação dos saberes pelo corpo; a aprendizagem pela experiência, observação e prática de escuta; e a preservação da memória. A oralidade também é uma característica muito presente na cultura africana, que, a partir da Diáspora promovida pelo período escravocrata, chegou ao Brasil.
Para Amadou Hampâté Bâ, escritor malinês, a oralidade nasce antes de qualquer escrita, tanto no desenvolvimento da aprendizagem quanto na origem da própria escrita. O ritmo e a cadência são importantes não apenas para a dança, mas inclusive para se contar uma história e prender a atenção do ouvinte. Ou seja, contar uma história, cantar uma música ou dançar são atividades que exigem ritmo e este ritmo está na oralidade.
Dança, corpo, contos, lendas, mitos, fatos atuais e passados são história, e a história, para as sociedades africanas, é cíclica. Por isso, pode ser e será recontada diversas vezes e, a cada nova contação, informações podem ser acrescentadas ou retiradas, o que não torna esta história falsa, apenas recontextualizada a partir de novos elementos do contador. Para os Bambara, para os Kula, a palavra é constitutiva do ser humano. O ser humano é corpo, alma, espírito e palavra. Os djeli (genealogistas, popularmente conhecidos como “griôs”, ou griots), contadores de histórias, falavam sobre a importância das danças ritualísticas e do significado de cada gesto para contar uma história da melhor maneira possível.
Pode-se afirmar que a propagação e o ensino das danças Afro se deu de forma oral, sem tantos cursos formais ou registros escritos da simbologia das movimentações. A isso explica-se a importância da pesquisa “Matriarcado e Oralidade nas Danças Afro-brasileiras” como forma de multiplicar os conhecimentos sobre a oralidade na manutenção e na preservação das danças Afro-brasileiras.
Ouça a escritora moçambicana Paulina Chiziane falar sobre oralidade e ancestralidade: